Poesia em êxodo
DOI:
https://doi.org/10.56069/2676-0428.2025.647Palavras-chave:
Ferreira Gullar, Literatura, PoesiaResumo
Este artigo analisa a representação das imagens da infância e da juventude de Ferreira Gullar em seu poema João Boa-Morte, cabra marcada para morrer, investigando como o espaço sertanejo, vivenciado pelo autor em São Luís do Maranhão, é ressignificado na obra. Apesar de sua formação ter sido marcada por elementos do universo rural, o poema não reproduz fielmente suas memórias, mas se transforma em um espaço poético carregado de novos significados. Demonstrar como ocorre a transmutação dessas imagens no poema, destacando a construção do espaço narrativo a partir de uma perspectiva literária. Para isso, são examinados a trajetória biográfica e poética de Gullar, bem como a estrutura do poema em questão. Verifica-se que o espaço no poema não corresponde apenas às vivências do autor, mas é reconstruído poeticamente, adquirindo novas camadas de sentido. A paisagem sertaneja, antes ligada à infância de Gullar, transforma-se em um ambiente simbólico, onde se articulam questões sociais e existenciais. A memória, portanto, não atua como reprodução do passado, mas como matéria reelaborada pela linguagem poética. Conclui-se que João Boa-Morte, cabra marcada para morrer opera uma ressignificação do espaço e das memórias de Gullar, transcendendo a experiência individual para construir uma narrativa universal sobre opressão, resistência e identidade. A poesia, assim, revela-se como um mecanismo de transformação da realidade em arte.
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